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Mostrando postagens de 2017

"o que há de RJ em mim?"

há em ti a rotina mais gostosa que eu já vivenciei. a cidade que amo de passagem, mas poderia morar sabendo que seria feliz - posso te amar de passagem, mas amo eternamente agora, sabendo que sou feliz - há em ti a mesma praça que eu não enjoo de ver todos os dias quando acordo e a mesma árvore na janela do apê alugado por uma semana que a cada entardecer me presenteia com uma folha nova há em ti o mesmo cheiro de bairro tranquilo localizado a doze minutos de distância do bairro da noite, das putas e dos boêmios há em ti a sensação gostosa de pisar na areia grossa em uma praia nublada na cidade maravilhosa e a promessa da visita de um lugar que acolhe e me refresca a memória revivendo a saudade do que não vivi há em ti um banho de mar desejado por cada átomo do meu corpo um banho que me refresca e que me faz gritar na beira da praia em despedida "obrigada, Existência! Eu volto, Ipanema, eu volto!"

entorpecer

a cabeça fria rege o corpo molhado que esquenta em euforia, agita o sangue sob a pele e desaba num sentir monstruoso desarmando o temor anulando o torpor instala-se, por escolha, o tudo poder sentir.

Sobre ser!

Já vou avisando que o "textinho" vai ser longo então se acomoda aí, pega umas almofadas, coloca Trem-bala pra repetir e me acompanha! Há um tempinho eu vi uma publicação que dizia "Somos tão passageiros que, não somos, estamos". Eu compartilhei meio assim... Não concordava totalmente, mas não sabia dizer de outro modo, então coube no momento. Depois de um tempo (bastante até, alguns meses), eu estava no grupo de estudos em fenomenologia (já falei um bocadinho disso por aqui, embora não explicitamente) num fatídico dia em que todo mundo faltou e ficamos só eu e o professor (sim!). Teve bastante assunto permeando a leitura e discussão. Dentre esses assuntos, eu trouxe a frase acima. - Professor, uma vez vi uma frase que dizia o seguinte "Somos tão passageiros que, não somos, estamos". Mas se a gente reparar, essa frase ainda segue a ideia que a fenomenologia se propõe a refutar, a de que o ser é estático, constante. - Sim!!! - e num lapso de...

Noturno

"a tua pele de Lua, o meu olhar de neblina." - Vitor Ramil eu sou um filtro azul de papel celofane cortado em formato retangular de tamanho igual às polegadas                                           [da tevê. giro num palco imundo rodeado do mais verde musgo que espalhava o fétido odor                                          [ao lugar. desgraçada coincidência fez jorrar água barrenta na terra que cheirava à morte. e ali em meio à vida, condenada a si: extinta. decretou-se: si, sedenta.

entardeceu

um ramo de flores laranjadas como o céu que acaba de pôr o Sol presas umas às outras com finos arames verde folha que simulam-lhe os caules frágeis. chama -de fogo e "vem"- e anuncia-se diante dos rostos chatos e dos calmos pés. repousavam sobre o barro seco, que solta-se fino ao passar dos dedos longos e fofos enfeitados com anéis.

Soul para o que jazz

Soul o Sol e também o concreto de cimento queimado encerado bem disposto ao lado do vermelho dos tijolos de barro. Soul a grama, que vive uma vida a cada nascer, morrer e reviver do Divino. Todas as manhãs Soul a fumaça, que ainda sai do cigarro há pouco afundado numa terra cor da Laura, de Clarice. Soul o som ao fundo sobreposto por figuras passinho. Soul o exercício do ócio, a representação do infinito contextualizado.

estrago

meu corpo pende eu sou um peso morto na balança viciada escorro como lama no capô do carro em dia de chuva forte quebra-se o fio da vida que estica até não poder mais o corpo que, sem medo se arrisca, mantendo a prudência retorna ao primo lugar um corpo que cai pelos ombros primeiro a cabeça alcançando a coluna de ferro e concreto e quebrando-lhe então o pescoço logo atrás caem as pernas e arrastam o tronco sobre si não se sabe como chega ao final do precipício e nem se tal final há.

vagalumes

a ponta do cigarro que acende às margens da rodovia são vagalumes anunciando fadas a tua voz fala aos meus ouvidos uma língua que eu não entendo reajo com passos que você não vê.

amnésia

esqueci de você me olhando com ternura sustentando aquele sorriso discreto no canto da boca esqueci do brilho nos teus olhos castanhos e pequenos quando alguém te perguntava sobre mim esqueci o som da tua voz quando insistias em perguntar no que eu estava pensando esqueci a nossa música e tudo o que você queria que eu lembrasse esqueci teu corpo nu ao lado do meu, repousando em lençóis bagunçados, na tua cama de casal esqueci a blusa que eu te dei, um presente que eu não terminei, algum dia entrego um outro, um que eu sinta que consegui acabar, como nós. De todas as coisas que eu esqueci, talvez a mais importante me permanece em memória esqueci de esquecer que ainda amo você.

pan-óptico

O gosto amargo perpassa a saliva secando na boca. A história escuta dizendo ao que salva: - Crucifico-te. Esmaga teu juízo vazio e denso de fumaça preta. A lixa de metal rasga a pele fina do teu braço. Aquele preço... As tuas unhas comidas por dentes fartos já gastos nos rojos lábios. Escreve, vadia! A tua imagem porca de gorda rosa com as entranhas de fora.

ansiedade

inflama tua carne vermelha e permite escorrer o sangue pelas unhas roídas cobertas por duras cutículas sangrando em teus dedos finos cujas extremidades frias combinam com as unhas roxas teus pelos sempre pretos pintam-se agora de vermelho num banho de sangue fresco.

na minha época

O teu ponto falado com orgulho risca as datas no calendário do primeiro ano da última década do século passado pendurado num prego enferrujado atrás da porta da cozinha que tu trancas à noite enquanto dormes.

sacia-me

sedenta por ti por tua boca de rio e teu corpo de onda que reverbera aos toques suaves e intensos dos meus dedos pelos que se eriçam corpo que se entrega mãos que passeiam entre nós intensificando a ousadia dos olhares mudos e dos sorrisos frouxos imersos em desejo.

caixa com asas

como a caixa escura                                 me captura. me rouba a dança                                 me apresenta a cena. encena um passo e me convida:          "vem!"

fada

as luzes indicam o caminho entre os passos dos pés virados apontando o Norte ao Sul como querendo indicar - aos que percebem - um outro caminho. a forma humana se apresenta àqueles que podem vê-la os sussurros da voz masculina e aveludada em alguns momentos a luz se apaga outrora permanece acesa. se jamais apaga, o que seria?

Zambumbê-bum-á

o teu silêncio se apresenta ao som de um sussurro que soa aos meus ouvidos como Zabumbê-bum-á incômodo e extremamente perturbador entorpece inebriando  como que anunciando o causar da dor e me obriga a apertar o pause fechar a janela e esquecer o nome do álbum e do autor depois de resguardá-lo numa parte de minha memória não materializada que salta como notificação não vista sempre que me encontro com o horror cada distanciamento e aproximação me parece sempre estranho e incomum o som da tua risada se confunde à Suite Paulistana e ao meu grito calado por mil vozes gritando em minha cabeça o quadro de Dalí sobreposto ao de Magritte Ceci n'est pas une pipe nem uma cabeça nem minha cabeça nem meus olhos meu nariz a minha boca nem um rosto sou um nada um vazio provocado pelo tudo que antes houvera sido quem sabe um dia talvez tivesse deixado de ser como os comentários que já não existem a tua presença se convertendo no que  um dia foi e foi muito bom anuncia...

foi Sofia porque não era eu

elogio escroto abuso desmedido o convite o encontro a ofensa não é como eu quero não é mulher de verdade o defeito ta nela na sua pele no que pode sentir no que não sente o problema não são minhas mãos meus dedos sem tato meu cheiro que enoja quando cala a fala eu finjo que não sei nada que não fiz nada que era piada mas repito e repito palavras de merda eu digo escuta ela não pára de falar filha da puta desgraçada não sabe o teu lugar? recebe só aceita boca fechada não diz nada você não sabe o que lê o que vê o que sente você não sabe nada mulher não sabe nada sai daí eu já disse é melhor não se meter me escuta sua puta faz o que eu achar melhor você fazer não era nada nunca foi nada era só o que tu pensava mas era sim você tava marcada a tua pele estava a tua mente estava a tua imagem estava agora não tem mais jeito é tua sina ver minha mão segurando teu braço quando você disse não eu só queria não saber o que você sentiu o que você...

cegueira

te cega pra não me ver me apaga do registro fiel das tuas memórias e ignora o meu existir como se fosse simples finge que eu não vivo, não morro nem nunca vivi e frequenta os lugares marcados naquele teu mapa mental todos com alfinetes de grandes cabeças vermelhas que parecem gritar com minha voz: - oi, estou aqui também segue cego sem aquele receptor específico que guardou a minha imagem e a implanta nos teus sonhos e delírios e alucinações e pesadelos e onde mais for possível

the purge

eu tenho olhos de Sol meu corpo é quente e vermelho sinto o sangue virar em chamas a pele derrete e a sensação é boa expurgo de mim me queimo um sacrifício à Existência por existir

sussurro

tua boca quente discreta esquenta e corta o pranto curto a todo gosto sincera salgo que salgas me lleva de ti cigano cigarro a ponta aponta a ponta do porre e do cuspe o murro na faca a gosto amargo de sangue saliva áspera aspira à espera esporro seca no canto da boca entre as coxas e virilha cachoeira

orgástico

meus dedos em teu sexo tua boca em meus seios nossos olhos concentrados em fitar-se permitindo atenção ao som do roçar dos dedos dos teus pés no relevo das minhas coxas os sussuros os gemidos e o arfar da respiração me sufocam e me dão prazer dois corpos morto vivos tocam-se lambuzam-se a seu bel prazer no pecado a eternidade os toques de corpos amantes soberanamente suturados amor é ferida de alma poros e pelos é suor no corpo tremendo a sala fria e o sangue rápido pulsando a ritmo frenético fervilhando na pele o desejo na carne a saciedade no sexo o prazer delira exultante entregue ao que há de mais humano e mais animalesco numa existência torpe.

A Valsa

Sejamos um . Não para o outro. Um no outro Duas mãos coladas, um corpo no outro, teus olhos nos meus, minha boca em teus ouvidos. Teu perfume, meu vício. Tua luz, meu calor. Minha vida, teu destino. Minha sina, ser para ti homem e menino. Dedos entrelaçados, rostos colados. Dois corpos valsando uma melodia eterna e inaudível. Um passo a cada batida de nossos corações, que num ritmo único, são os maestros na valsa. que aos poucos vai silenciando... não se ouvem  mais passos, não se ouvem mais batidas. Valsamos juntos rumo à eternidade. Em uma valsa perfeita e incansável. Miguel Araújo -  aquele pseudônimo de 2013. _______________________________ Aqui tem uns textos de Miguel e uns meus http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=134018

(cinco de julho)

Menino, eu queria é beber contigo. A gente se ofendia, chorava e se beijava (esse último é dispensável). Que tal? A gente falaria o que sente Pediria desculpas sinceras Xingaria a família e os amigos Amaldiçoaria os futuros relacionamentos um do outro Desejaria felicidade um ao outro Se ressentiria um com o outro remoeria o fim do "para sempre" A gente se odiaria, se olharia friamente A gente ia mandar um ao outro à merda, ao inferno. e iríamos juntos A gente sorriria ouvindo os relatos dos encontros com outras pessoas...

puta

vômito no chão da sala entre sangue escorrem lágrimas e palavras o corpo roxo desfalecia dolorido a garganta ardia tentando gritar        ninguém me escuta    estou sozinha             desgraçada! vadia!             era só não ter falado             era só não ter sorrido estava sim, esteve sempre no momento em que andava na rua e foi chamada de vagabunda quando negou um beijo e recebeu um soco quando olharam-lhe a roupa e chamaram-na puta a confusão na cabeça a fazia sentir-se culpada ela era, sabia. culpada por nascer mulher. nunca houvera sido seguro nascer fêmea performa feminilidade e fica no teu lugar aceita calada os elogios tem mais é que agradecer se fazes diferente os insultos são bem merecidos tu tem que aprender onde já se viu mulher com ambição de ser gente?

eternidade

o tic tac marca o passar do tempo, as horas, minutos e segundos e a seta para a direita o tempo passa vislumbrando a construção sobre os pilares de um amor recíproco enquanto se eternizam os momentos renova-se diariamente a paixão inédita dos primeiros instantes.

papel

folha de papel a caneta azul num traço forte e carregado risca vermelho que estoura no braço mancha a roupa mancha tudo o que ainda não estava manchado um caderno quase até o fim marcado, manchado poesia escrita num borrão de tinta vermelha saída de uma caneta azul

sete

absurdo do ser é senti r. tudo que esc apa ao fim é a ssim: a b-surdo ex-sist ir. que m me de ra um d ia foss e a ine xistênc ia absu rda tan to quan to o qu e a tor na poss ível se r. quem sabe um dia: se te dias da sema na, tal vez cin co. vai saber e u não q uero...

o muro (mudo)

Respeito minha decisão, ao mesmo tempo que indico "tudo bem mudar de ideia", aprendi a não andar (amar) sobre o muro por pura ganância de possuir ambos os lados existir é isso: infinitas possibilidades que se modificam, constroem, se desvelam e se escondem num eterno movimento da zona do nada, onde habita o todo possível e nesse movimento de realização hoje decido: respeito minha decisão. Escolho.

(de)terminei

Eu comecei a escrever pensando num outro alguém... terminei falando de você terminei com você terminei você da minha vida na minha ida determinei você terminei minha vida terminei minha vida sem você determinei minha vida não quis terminar você determinei minha vida com você

ânsia

vomito minhas angústias as lamúrias e tudo o mais que eu calo. as palavras engasgadas na garganta são intragáveis. eu vejo meus órgãos aos pedaços saindo de mim como saem as lágrimas salgadas que não ardem nas feridas abertas meu próprio corpo é uma ferida aberta que nunca vai cicatrizar constantemente reabre a si mesma

bolhas de sabão estouradas aos setenta e três anos de idade

"vai passar uma... coisa. E você não pode ficar no meio" essa coisa... é um corpo um corpo morto carregado por seis braços um corpo que eu vi sem vida dentro de uma caixa grade, depositário de morte que acolhe aquilo do qual todos fogem um corpo que sangra ainda, talvez, eu não sei 73 anos perfurados inúmeras vezes... por um homem: seu irmão. Eu não a conhecia, eu não o conheço tampouco essas pessoas sei quem são. Registro meu nome no livro que registra os que presenciam o fazer-se real  da morte não enquanto morrendo, tampouco enquanto possibilidade: morrer. Mas enquanto concretizado, executado, esgotado: morreu . Assassinada: não foi "simplesmente" morte. Foi "de repente" morta. Alguma coisa interferiu no ciclo dos acotecimentos que rege a Existência. Me sinto intrusa e sei que o sou. Intrometo-me na dor que não é minha, mas também o é a compartilho, sabendo que não tal qual. "não estoura ela, deixa...

aqui teria um título maior que esse, mas eu desisti de escrevê-lo

apaga a minha existência da tua e me expulsa dos teus sonhos e dos teus delírios e alucinações bloqueia meu contato nas redes e desfaz amizade comigo depois de deixar de me seguir exclui o texto sobre mim e me afasta da tua declaração versada sobre teu sentir quebra aquele porta-retrato com a nossa foto, no teu quarto ou coloca o registro de outro alguém queima as cartas que te escrevi, com prazer vendo as cinzas das palavras coloridas as fotos, os desenhos, a camisa o "nosso livro". Destrói tudo que te faz lembrar de mim como Joel, me apaga da tua memória pois como Clementine, eu já o fiz. só isso permitiria um reencontro lê isso que eu escrevo, chora um pouco e pensa "por quê?" não leva a sério pois são coisas que eu não diria tampouco gostaria de dizer seria mais fácil se fosse assim, você há de concordar, eu hei de saber. mas não é o que sinto, não é o que desejo e nem o que ouso te pedir rumina essas palavras, mas n...

Sobre Genira (novamente)

A tua boca, já sem dentes, repete um mantra incômodo aos ouvidos alheios, mas que acalenta aos teus. Os teus olhos saltados, curiosos como os de uma criança, parecem sempre procurar algo (e nunca encontrar). A tua pele nua, flácida, sensível ao frescor da água fria, envelhecida e enrugada, cheia dos sinais e marcas (do tempo e das injeções), é a minha definição de beleza. Nem mais o próprio falar, nem mesmo o fazer, tu consegues organizar. Teus pensamentos perderam o ritmo e já não encontram sentido. A tua fala se embaralha e as histórias viram uma, viram duas, viram várias... Ah, minha menina, queria eu poder saber o que se passa na confusão da tua cabeça. Se pudesse, eu organizaria teus pensamentos e aliviaria a confusão das tuas dúvidas. Não sei se tu podes sentir meu amor, se quando fores  vais saber... Mas por mais que logo esqueça, você sempre sente os meus cuidados. Eu vejo isso em teu sorriso, nos agradecimentos tímidos, na tua mão...

um dia foi, e foi muito bom

era sincero e estava tudo bem não tínhamos nada, realmente. Não que já não houvéssemos tido. Tivemos, sim. e foi ótimo, foi bom, mas passou. E não haviam acordos ou concordâncias sobre o estar junto, apenas o desejo de ver ao outro novamente. Como planos que se seguiam e, caso se cruzassem numa estrada qualquer da vida, seria festa então. Seguimos assim. Até que, num dado momento, de engano me acusou. Descrente e sem poder compreender, eu aceitei daquela vez (mais uma vez).

pescaria

Como verso que me fisga, poema na isca. A dor de rasgar o início da escrita o prazer de capturar poema. Onde pode viver, é longe de mim. Como alimento, é morto e somente. Ao que se permite ser fisgado, que me sacie com a escrita rota.

Então, não estamos mais juntos...

um dos meus casais favoritos não está mais junto. Foi um choque quando eu soube     mas tudo bem,    nós também já fomos    o casal favorito de alguém e tudo bem eles eram lindos juntos e são lindos separados também. Ela é linda com outro rapaz e ele lindo com outro alguém. Ambos exibem beleza mesmo sem ninguém. Eles eram lindos e eu os amei enquanto puderam ser juntos. Eles se amaram também. É o que diziam por aí... agora não mais, ou talvez sim... De qualquer forma, "tudo bem".

As palavras que eu mais uso

aquele site do efe azul tentou mostrar as palavras que mais uso e formou poemas sem a intenção: História Padrão sendo mulheres todos dias: luta. ------------------------------------------ Coisa Foto, congresso, texto... humano =/= homem "cara desse, Miguel!" "Nada contra arte, Alanna" ------------------------------------------ Dona vida, pode ouvir Genira quiser dizer: - amigos, olha... Pena ainda hoje meio mundo falar outras/todas vezes: sofrimento amor . ------------------------------------------ Momento Gente... pessoas, amores: tudo amor sofrimento ! Precisa, assim, lembranças. ----------------------------------------- Nunca Dito Poesia quer, então, fazer forma: mulher aberta, algo escrito.

Fusão

Sintonizo-me agora com todos os sons ao redor. Me sinto abraçada por eles e o seu abraço é quente. Implodindo em sons, me desintegro em canções e em Camões. As partes do corpo que tal esplendor sensacionam, desinstegram-se e dissolvem-se à medida em que formam canções. Saídos de mim, carregam minha pele, quebram meus ossos, rasgam minhas veias, lançando à terra o sangue que escorre em mim. Levando consigo os elementos que me compõem, levam também a mim. Componho-me, eu mesma, aos ouvidos atentos e dispostos a ouvir. Sinto-me como num baile, no qual meu corpo lentamente se resfria. Não há mais o calor dos abraços nem tampouco os meus passos e os teus. Soltamos as mãos e, numa dança solo, entro em erupção como um vulcão. Expilo larva para queimar. O meu corpo me conduzia diante da condição de inseparabilidade: conduzindo-me à minha própria condução... Os sons fizeram-se passos compostos por quadris, coxas, pés e mãos. Impelida aos movimentos c...

eu voltava, mas hoje não mais

li tuas palavras como que te ouvindo dizer com os olhos marejados e transpirando ódio de mim (ódio e amor a coexistir). Falavas sobre mim e sobre ele, fazendo-se falar por ti e por ela. Falavas que sim, há amor em ti, há amor ali, há amor por mim entrelaçado ao amor como o nó que não se desfez -na época. Hoje, não sei- era impossível destilar a dor coexistiam, então, ódio e amor. Antagônicos no Aurélio. No sentir, não. Você dizia - você volta,   ele volta   e faz mal . Eu bem sabia. Ora, eu via, mas não queria admitir. Depois de um tempo percebi que sim eu voltava, ele também e fazia mal. Fazia mal, aparentemente, inclusive o existir. E eu não voltei. Ele, não sei. Digo por mim: não volto a te ver, não torno a ti te amo daqui e sinto teu ódio e amor por mim.

não me ofendem os amores, os amantes

a mim, contigo, escancaro a capacidade de te olhar e te ouvir falar por horas sem me ofender com os amores passados os vividos, os experimentados. Sem me ofender com os amores de hoje, aqueles que, num relance, se apaixona e se sonha uma vida. Te ouço falar do amar, do sonhar, do perder, do trair. Te ouço falar do prazer, não com desprezo, tampouco com nojo ou fascínio. Te ouço falar com desejo o desejo que sente e que sentiu por outras mulheres, minhas irmãs. E isso não me enciuma e isso não me ofende, nem deveria, não tem porquê. Teu amor por elas o que já foi, o que ainda é, o que um dia poderá ser alimenta, de forma peculiar o meu amor por ti.

vinte e três de julho

Tem esses dias em que a gente acorda e não quer nada mais que um colo bom e um cafuné. Mas a gente levanta e pisa no chão frio porque deixou a sandália sabe-se lá onde. A gente toma um café amargo porque esqueceu de comprar açúcar na noite passada e já não tem mais nada no armário. A gente sai de casa e perde um ônibus quando ta chegando na esquina. A gente machuca a boca escovando os dentes com pressa e ainda chega atrasada no trabalho. A gente liga o ar condicionado e ele curiosamente começa a esquentar a sala e, depois de ligar e desligar novamente, ele começa a gelar demais e a gente fica com frio. A gente veste uma capa, finge que lê uns livros, atende umas pessoas, dá a hora de ir embora e o chefe ainda ta trancado na sala. A gente tem medo de incomodar e não bate na porta, desliga tudo e manda uma mensagem dizendo que está indo, desligou tudo e "até amanhã". A gente vai almoçar e encontra umas pessoas e troca uns olhares tímidos. A gente ganha uns abraços daqueles qu...

7:30 AM

sexta-feira o dia até parece que já amanhece bonito. 7:30 AM e já vi(vi) as três coisas mais bonitas do meu dia: um gato voltando sorrateiro para casa, por um buraco no muro (a falta de um tijolo lhe permitia passagem); o Sol refletindo prateado no meu caminho das manhãs - eu andava e ele sumia, se escondia... dei um passo atrás para ver o Sol, como o principezinho que recuava sua cadeira para contemplar o Sol se pôr, eu o contemplei já no alto, e não com sentimento par; as sementes que jamais germinarão adornavam o caminho como que a o delimitar. 7:30 AM o dia se anunciava esplenderoso como que a compensar seu próprio desenrolar.

eternidade efêmera

Eu poderia eternizar o momento em que teu sorriso de canto de boca se deixa ser visto meio que sem querer. É o meu instante favorito: a eternidade ali reside. Eu poderia congelar o momento em que teus olhos me fitam com ternura, anunciando conforto. Eu poderia prolongar para sempre o momento em que teus dedos tocam a pele do meu rosto. Eu poderia, mas eu me satisfaço com a eternidade constituinte da efemeridade dos instantes.

são dias com céu nublado ameaçando uma chuva que demora a cair

São dias que a gente dói e nosso sangue escorre na pele de um outro alguém São dias de lágrimas sinceras, de peito apertado a ponto de faltar o ar São dias que a gente grita a repulsa à existência que outrora nos fascina São dias de "não aguento mais" "não consigo estar aqui" "ainda tenho que fazer isso" São dias recheados de deveria de tenho que São dias em que a gente ignora os poderia os acontece os tudo bem São dias em que o absurdo se apresenta e a gente abraça e a gente acata a sugestão. No fundo, querendo e repetindo que não: a gente, de alguma forma, se esgota, se mata cessando a reclamação.

Faz sentir

Me perco no relevo da tua pele Teu beijo me aquece o corpo e me pede sorrisos. Teus abraços como encaixe justo não me sufocam, confortam. Tua presença se revela mesmo em ausência e, até de longe, és conforto. O caminhar as conversas, o silêncio. A construção do amar Em verso te verso. A mim lembro: não peço que não me deixes de amar. Enquanto for que haja chão e se pudermos por quanto tempo restar Construiremos um "onde", um "quando", um "como" amar. Faz sentido enquanto faz sentir Momento, instante. Eu sinto.

K.

Teus olhos parecem sempre concentrados em algo. Ao te conhecer, te elogiei as sobrancelhas. Elas, sérias, ornam com teu olhar. Te ouvi tocar pela primeira vez curtindo deliciosamente o som gostoso e melancólico que pairava. Te li falar de amor e me identifiquei sem nem nunca ter dado um "oi", pensei "o amo, é certo!" e te amava por amar como eu. Te conheci por acaso, sem querer, por amizades em comum e uma tarde de conversas sobre o morrer. sem nem dar tempo a um abraço. Pouco depois, uma promessa: "a próxima vez que te ver, vou te dar um abraço gostoso!" promessa cumprida numa passagem de corredor. Tempo passa, vai e volta, reviravolta e de novo o amor! De novo o amar igual, tanto as pessoas, quanto o tédio e um dia chuvoso. Uma madrugada de conversas sobre o amar, o doer, o faltar... Sintonia que não me assusta, do contrário: acalenta. Dia desses eu quis colo e cafuné, mas, curiosamente, fui teu colo e te fiz cafuné e, ass...

machista escroto

esse teu jeito galanteador, cavalheirismo disfarçando teu machismo eu sei fazer só, não preciso de você não vejo gentileza, pois na verdade não há. Chega me abraçando, me mantendo ali, de certa forma me prendendo, beijando onde quer e eu aqui procurando a liberdade que estou certa de não ter te dado. Você parece estar bem acostumado a levar meninas nessa tua conversa mole, mas comigo não (e sei que você percebe). Esse teu "romantismo", é nada mais que abuso. E isso, escroto, ah... isso eu não aturo!

Sobre me livrar de você

ele me procura bêbado e tenta vomitar tesão é um nojo e eu não suporto "você me despreza" ele dizia. eu desprezo, é verdade te olho com desprezo te sorrio com desprezo te abraço e até te beijo com desprezo te desprezo com amor amor de odiar odiar você da forma mais intensa que eu puder "se não quiser me ver..." não faz diferença para mim, eu pensei tanto faz te ver ou não, eu pensei fazia diferença sim, eu queria te ver sentir asco sentir nojo te desprezar mais uma vez te olhar e lembrar: das merdas que você disse das merdas que você fez do quanto eu ficava bem quando estava longe de ti tua existência personifica o inferno em vida pra mim lembrar disso é lembrar que eu vivo o céu, sozinha, longe de você e que se foda o seu tesão a porra da sua admiração que mascara o desmerecimento por tudo que eu faço, que eu penso, que eu leio por tudo que eu sou te mantive na minha vida por querer te manter longe de tanto não fazer dif...

Vi a Lua dançando, numa noite sem luar

Era noite e o céu estrelado não tinha luar. Lá, outra Lua brilhava. Empática e humildemente compartilhava seu brilho. Não dividia, multiplicava. Fazia mais de um... Se bem que é brilho (não há como medir) Vendada, trajava preto e, claramente, tinha um par. Vai saber! Digo  que vi: a existência, despudorada. tirou a arte para uma dança e a artista, espontaneamente se entregou sem hesitar. E o instante disse: - que haja arte! E arte se fez!

Artur

Artur, sem agá Tem nome de rei. Soberano quando o assunto é afeto - me afeta como ordem da nobreza à qual me submeto voluntariamente - com palavras e fotos conta os dias, um a um te acompanho em caminhada observando, acolhendo, ressignificando os significados que você vê. Te ver é euforia nos meus dias, é acolher sentimentos com um abraço forte e um sorriso sincero e uma voz gostosa que eu adoro ouvir. Artur é sorriso no meu pote!

Para quando Ynara queria um abraço

Ta tudo bem sentir-se assim (eu posso imaginar que, talvez essa seja a última coisa que você queira ouvir) "ta tudo bem" não tá não, você mostra daí eu vejo daqui. Mas o que eu quero dizer é que tá tudo bem o fato de não estar tudo bem. Não precisa ser sempre assim. A vida é isso mesmo, é esse vai e vem - sem fim. Te ofereceria um abraço, se pudesse. Como meus braços não alcançam que te toque meu verso. Fica bem. Ou fica mal, mas lembra que tudo bem sentir-se assim.

Sobre nossa saudade

Matar a saudade (quanta crueldade!) é tão bonito esse existir por ora, é o que te personifica aqui. Se sinto saudade: (saudade de ti) destinada a alguém, sentida por mim. De certo modo, é o que nos liga tu aí, eu aqui. a saudade é (entre) Entre, meu bem não se despeça da saudade assim. Traz ela contigo, aqui. Do latim solitas "solidão, retiro" (que não retiro de mim), de solus , "sozinho". Tem a ver com solidão distanciamento da presença (a falta do "carne e osso") e im(a/i)nência dela aqui.

Velório

o velório é preparado para os vivos. eles não velam um corpo não lhe preparam passagem. eles velam a si mesmos, velam um fim, um mundo cujas possibilidades escancaram esgotamento e impossibilidade. os mortos não são velados, os vivos velam a própria dor.

Velório

é tudo muito carregado. vida e morte, dor e alegria. o interessante mesmo, é não serem antagônicos tampouco excludentes são, em verdade, complementares. um não existe sem o outro. eu respiro um ar pesado, lágrimas me enchem (e incham) os olhos há um corpo, o responsável por reunir as pessoas aqui, um que eu sei não mais ter vida um que eu não pude ver antes do último suspiro deitado sem vontade nem resistência num caixão cuja tampa vai baixar sem tornar a levantar jamais... de todas as possibilidades nenhuma existe mais é um corpo imóvel sem o sopro, sem a vida toda a ação orgânica responsável por manter a vida não cumpre mais sua função. mas não é só isso não é só um corpo, carne, sangue e osso além disso é cada memória é cada espaço corrido, e cada pedaço de chão pisado é cada roupa já vestida e cada perfume usado. é cada abraço já dado (e os não dados também) é cada "eu te amo" dito (os silenciados também) não é só corpo ...