A tua boca, já sem dentes, repete um mantra incômodo aos ouvidos alheios, mas que acalenta aos teus. Os teus olhos saltados, curiosos como os de uma criança, parecem sempre procurar algo (e nunca encontrar). A tua pele nua, flácida, sensível ao frescor da água fria, envelhecida e enrugada, cheia dos sinais e marcas (do tempo e das injeções), é a minha definição de beleza. Nem mais o próprio falar, nem mesmo o fazer, tu consegues organizar. Teus pensamentos perderam o ritmo e já não encontram sentido. A tua fala se embaralha e as histórias viram uma, viram duas, viram várias... Ah, minha menina, queria eu poder saber o que se passa na confusão da tua cabeça. Se pudesse, eu organizaria teus pensamentos e aliviaria a confusão das tuas dúvidas. Não sei se tu podes sentir meu amor, se quando fores vais saber... Mas por mais que logo esqueça, você sempre sente os meus cuidados. Eu vejo isso em teu sorriso, nos agradecimentos tímidos, na tua mão...