Tem esses dias em que a gente acorda e não quer nada mais que um colo bom e um cafuné. Mas a gente levanta e pisa no chão frio porque deixou a sandália sabe-se lá onde. A gente toma um café amargo porque esqueceu de comprar açúcar na noite passada e já não tem mais nada no armário. A gente sai de casa e perde um ônibus quando ta chegando na esquina. A gente machuca a boca escovando os dentes com pressa e ainda chega atrasada no trabalho. A gente liga o ar condicionado e ele curiosamente começa a esquentar a sala e, depois de ligar e desligar novamente, ele começa a gelar demais e a gente fica com frio. A gente veste uma capa, finge que lê uns livros, atende umas pessoas, dá a hora de ir embora e o chefe ainda ta trancado na sala. A gente tem medo de incomodar e não bate na porta, desliga tudo e manda uma mensagem dizendo que está indo, desligou tudo e "até amanhã". A gente vai almoçar e encontra umas pessoas e troca uns olhares tímidos. A gente ganha uns abraços daqueles que a gente não quer mesmo é soltar nunca mais. A gente come comidinha que lembra a infância e fica felizinha por isso. A gente pega um caminho diferente do habitual e encontra um trio bonito que presenteia a gente com abraços apertados e quentinhos. A gente deixa o celular cair no chão e finge distração pra passar despercebida. A gente chega cedo pra aula, mas atrasada pra reunião porque a fila no almoço tava enorme e a gente demorou mais de uma hora pra comer. A gente entra na sala e liga o ar condicionado que não funciona pra tentar amenizar o calor. A gente usa a internet e vê gente dizendo que a gente é um amorzinho. A gente lembra que recebeu "um abraço apertado pra encher ainda mais de sorrisos esse pote porque eu tô achando que ele ta muito vazio ultimamente". A gente continua na internet e, em algum momento, inevitavelmente, a gente vê alguma coisa que você falou, um texto que postou. A gente vê você dizendo que o passado já não serve e a gente sorri triste. A gente cansa, sai da sala, quer ficar só e vem gente conversar. A gente começa a escrever um texto sobre a gente e o que a gente faz nesses dias em que a gente acorda e só quer um colo bom e um cafuné, um texto daqueles que repetem uma mesma expressão a cada início de frase porque a gente gosta de ler texto assim. A gente pede um abraço a quem diz um oi porque sente saudades e está carente. Tem esses dias que a gente acorda e não quer nada mais que um colo bom e um cafuné.
Comentários
Postar um comentário