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Sobre Genira (novamente)


A tua boca, já sem dentes,
repete um mantra
incômodo aos ouvidos alheios,
mas que acalenta aos teus.

Os teus olhos saltados,
curiosos como os de uma criança,
parecem sempre procurar algo
(e nunca encontrar).

A tua pele nua, flácida,
sensível ao frescor da água fria,
envelhecida e enrugada,
cheia dos sinais e marcas
(do tempo e das injeções),
é a minha definição de beleza.

Nem mais o próprio falar,
nem mesmo o fazer,
tu consegues organizar.
Teus pensamentos perderam o ritmo

e já não encontram sentido.
A tua fala se embaralha
e as histórias viram uma,
viram duas, viram várias...

Ah, minha menina, queria eu
poder saber o que se passa
na confusão da tua cabeça.

Se pudesse, eu organizaria
teus pensamentos e aliviaria
a confusão das tuas dúvidas.

Não sei se tu podes sentir meu amor,
se quando fores vais saber...
Mas por mais que logo esqueça,
você sempre sente os meus cuidados.

Eu vejo isso em teu sorriso,
nos agradecimentos tímidos,
na tua mão segurando a minha
quando chamo para ir para casa
porque seu pai chegou.

Esse teu modo de ser,
o único que aparece como possível,
me desperta cuidado, amor
e sofrimento intensos.

Eu vivo isso como nunca imaginei.

                                         Thaís Alanna.


a foto que é meu papel de parede desde o dia em que a recebi


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