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Mostrando postagens de setembro, 2017

Fusão

Sintonizo-me agora com todos os sons ao redor. Me sinto abraçada por eles e o seu abraço é quente. Implodindo em sons, me desintegro em canções e em Camões. As partes do corpo que tal esplendor sensacionam, desinstegram-se e dissolvem-se à medida em que formam canções. Saídos de mim, carregam minha pele, quebram meus ossos, rasgam minhas veias, lançando à terra o sangue que escorre em mim. Levando consigo os elementos que me compõem, levam também a mim. Componho-me, eu mesma, aos ouvidos atentos e dispostos a ouvir. Sinto-me como num baile, no qual meu corpo lentamente se resfria. Não há mais o calor dos abraços nem tampouco os meus passos e os teus. Soltamos as mãos e, numa dança solo, entro em erupção como um vulcão. Expilo larva para queimar. O meu corpo me conduzia diante da condição de inseparabilidade: conduzindo-me à minha própria condução... Os sons fizeram-se passos compostos por quadris, coxas, pés e mãos. Impelida aos movimentos c...

eu voltava, mas hoje não mais

li tuas palavras como que te ouvindo dizer com os olhos marejados e transpirando ódio de mim (ódio e amor a coexistir). Falavas sobre mim e sobre ele, fazendo-se falar por ti e por ela. Falavas que sim, há amor em ti, há amor ali, há amor por mim entrelaçado ao amor como o nó que não se desfez -na época. Hoje, não sei- era impossível destilar a dor coexistiam, então, ódio e amor. Antagônicos no Aurélio. No sentir, não. Você dizia - você volta,   ele volta   e faz mal . Eu bem sabia. Ora, eu via, mas não queria admitir. Depois de um tempo percebi que sim eu voltava, ele também e fazia mal. Fazia mal, aparentemente, inclusive o existir. E eu não voltei. Ele, não sei. Digo por mim: não volto a te ver, não torno a ti te amo daqui e sinto teu ódio e amor por mim.

não me ofendem os amores, os amantes

a mim, contigo, escancaro a capacidade de te olhar e te ouvir falar por horas sem me ofender com os amores passados os vividos, os experimentados. Sem me ofender com os amores de hoje, aqueles que, num relance, se apaixona e se sonha uma vida. Te ouço falar do amar, do sonhar, do perder, do trair. Te ouço falar do prazer, não com desprezo, tampouco com nojo ou fascínio. Te ouço falar com desejo o desejo que sente e que sentiu por outras mulheres, minhas irmãs. E isso não me enciuma e isso não me ofende, nem deveria, não tem porquê. Teu amor por elas o que já foi, o que ainda é, o que um dia poderá ser alimenta, de forma peculiar o meu amor por ti.

vinte e três de julho

Tem esses dias em que a gente acorda e não quer nada mais que um colo bom e um cafuné. Mas a gente levanta e pisa no chão frio porque deixou a sandália sabe-se lá onde. A gente toma um café amargo porque esqueceu de comprar açúcar na noite passada e já não tem mais nada no armário. A gente sai de casa e perde um ônibus quando ta chegando na esquina. A gente machuca a boca escovando os dentes com pressa e ainda chega atrasada no trabalho. A gente liga o ar condicionado e ele curiosamente começa a esquentar a sala e, depois de ligar e desligar novamente, ele começa a gelar demais e a gente fica com frio. A gente veste uma capa, finge que lê uns livros, atende umas pessoas, dá a hora de ir embora e o chefe ainda ta trancado na sala. A gente tem medo de incomodar e não bate na porta, desliga tudo e manda uma mensagem dizendo que está indo, desligou tudo e "até amanhã". A gente vai almoçar e encontra umas pessoas e troca uns olhares tímidos. A gente ganha uns abraços daqueles qu...

7:30 AM

sexta-feira o dia até parece que já amanhece bonito. 7:30 AM e já vi(vi) as três coisas mais bonitas do meu dia: um gato voltando sorrateiro para casa, por um buraco no muro (a falta de um tijolo lhe permitia passagem); o Sol refletindo prateado no meu caminho das manhãs - eu andava e ele sumia, se escondia... dei um passo atrás para ver o Sol, como o principezinho que recuava sua cadeira para contemplar o Sol se pôr, eu o contemplei já no alto, e não com sentimento par; as sementes que jamais germinarão adornavam o caminho como que a o delimitar. 7:30 AM o dia se anunciava esplenderoso como que a compensar seu próprio desenrolar.

eternidade efêmera

Eu poderia eternizar o momento em que teu sorriso de canto de boca se deixa ser visto meio que sem querer. É o meu instante favorito: a eternidade ali reside. Eu poderia congelar o momento em que teus olhos me fitam com ternura, anunciando conforto. Eu poderia prolongar para sempre o momento em que teus dedos tocam a pele do meu rosto. Eu poderia, mas eu me satisfaço com a eternidade constituinte da efemeridade dos instantes.