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Mostrando postagens de 2018

não percorro espaços e não preencho lacunas

imersa num imenso nada afundo no vazio parco mergulho me quedo submersa na lama do anúncio da tua possível presença me lambuzo e me deito enlameada lambuzada feito suíno feito humano eu não procuro espaço algum percorro a inexistência e me inscrevo no vasto vácuo silêncio orgânico que se espalha na veia e sangra e queda sangue escuro: cinza, corpo de morte

ah, mar!

imersa em desespero espero resposta ao que não foi questionado, o inexistente presente aqui. pressinto a calma, ela anuncia onda forte e me afogo. não quero continuar em mim.

sobejo

às vezes te vejo nos cantos às vezes sonho contigo, mas nunca é você, você nunca existe tua imagem me perturba como a minha já te alucinou eu aceno e noto que você não está ali deixo escapar teu nome e vejo que não é teu corpo as coisas tem melhorado e algumas tem estado bem pior te sinto falta te gostaria por perto suspiro de alívio (por você não existir) e de tristeza (por não existir você)

Escrevo porque não posso mentir

Finjo palavra dita e a esqueço entre espaços vazios absorvo negatividade sustentando inexistência na escala vazia Inquilino de mim mesmo, não me cobro e não pago deixo a cara e a conta pendurada e meu pescoço também Finjo palavra não dita e finjo querer dizê-la. Minto porque não sei escrever.

Noite de temporal

Estagnada Pós passos desgovernados Em que esquina se encontra a sorte? Bebo desespero no boteco da esquina A menina me chama e eu recuso a dança Velho e sem rumo. Qual sentido tomar quando não se encontra sentido?

impossibilidade

esse espaço largo me chateia e me põe uma expressão insatisfeita sigo pensando que seria melhor tê-lo preenchido ou ainda que não lhe houvesse notado como não notar o nada? o vazio descarado que escancara as portas gritando em eco algo que eu não consigo ouvir há som, mas é mudo um silêncio ensurdecedor preenche o espaço de porra nenhuma.

*estátua

adornada num altar diante dos olhos de todo o mundo: e gira a grande roda da vida sob os seus pés e gira todo o mundo como um carrosel corpos desengonçados arrastam-se nas curvas da linha do tempo construindo a história.

câmera

Entre quatro paredes que entendiam-se até onde a vista não as alcançava mais, subserviente à sua natureza absolutamente humana, mísera e decadente. Aura que se expande aos corpos que organizam-se em círculo, regados ao tornar torpe - os ruídos da parte divina que ainda resta n'alma perdida entre o fogo ardente do Inferno de Dante.

Evoé

Manifestação singela de admiração e gratidão, produtos da possibilidade de contato efetivada sem contrato. Arte fluida solidificando a construção de uma manhã cinza. Montezuma , cinco do dois.

Onde anda você?

"e por falar em saudade... onde anda você? você bem que podia me aparecer..." - Toquinho e Vinicius de Moraes . noite de ritual pagão: A purificação do corpo celeste feminino para compartilhar as energias que virão.

Transformação

Transmuta-se sob o silêncio ensurdecedor dos ruídos em seus ouvidos o anúncio da morte prematura e inesperada. o riso amarelado contrastando a pele negra se cujo rosto nasciam alguns pelos                                              [grossos e pretos. o dia no calendário estava marcado para mais uma exibição do astro (que não possui luz própria). Nesta data, recolhe-se ao pó o corpo da alma que o universo já recolheu para si. superlua   azul , trinta e um de janeiro de dois mil e dezoito.

il'clisse lunare

imensa e gloriosa majestade construídas por calejadas mãos silêncio ensurdecedor da rosa estreitamente vermelha pacto estranho. selado no momento exato do encontro dos corpos opostos celestes. a mão do tronco mãe do qual emergem.

.tempestade.

Superlua azul mood: céu nublado. Encanto atravessado sobre as faces multicores do prisma de puro cristal. A aparição metafórica da divindade descrita na mitologia celta. O pó de ouro carimbado nas têmporas e pescoço e nalgumas linhas das mãos. Reluzia como o relâmpago que ela contemplou cortar o céu, anunciando a Voz de Trovões.

Teu nome, tua letra, você.

Estratégia escondida entre os cantos sobrepondo-se auditivamente ao pranto que se ouvia há séculos atrás. A textura areada entre os dentes, na língua porosa que lhe preenchia a boca. Escrita assinada por uma gorda letra ( B ) no espaço perfeito entre dois finos parênteses. Restaura-se quase que instantaneamente ao toque devastador do vento - silencioso e aveludado - na pele.

chovia

quando tudo acabou, eu chorei chorei por falta e saudade das lembranças chorei em época de chuva e chuva me lembrava você, cama, brigadeiro e cobertor. parece que chorando eu esqueci o quanto era bonito o meu riso tranquilo, os meus olhos sorridentes e o meu semblante calmo com cheirinho de amor - o próprio. quando chovia eu pensava: "até o céu sente nossa falta, por nós dois ele desaba" até que devagar eu fui cansando... enxuguei as minhas lágrimas, mas não podia enxugar a chuva: - pois bem, que desabe sozinho então. Shay , vinte e três do um.

culto

vazio de espaços preenchidos por estranhos passos que, em silêncio se posicionam em frente ao que fala a Palavra que deve ser ouvida. A Verdade , quatorze do um.

Eles te querem mansa e, por isso, eles dizem que te querem puta.

Eles te querem puta, mas puta só pra eles tem que saber fazer gozar e fazer cara de prazer, mas não pode ter dado pra muitos caras - não vou sair com mulher rodada tem que fazer um bom oral, mas é inaceitável já ter chupado outro pau ainda mais se for o de alguém que ele conhece a roupa tem que ser colada, mas só quando ele quiser - mulher minha não mostra o corpo por aí o corpo nem é dela mesmo, nunca houvera sido ora é do homem, ora do Estado, ora da Igreja, mas nunca dela mesma. Eles te querm puta, mas puta só pra eles você não gozou, mas agora ele tá cansado você pensa: essa eu passo, tudo bem e assim você é só mais um buraco que eles escolhem como bonecas sob o anúncio "meta e ela geme gostoso" aliás, eles te querem pra isso: pra meter, pra foder, não pra transar querem que você saiba todas as posições, que conheça o próprio corpo, que não tenha frescuras, mas torcem o nariz ao te ouvir falar de sexo - te preserva, mulh...

Inferno

compõem-se os significantes compostos por corpos estranhos caídos abaixo dos braços que apontam e gritam: - às traças! que esbocem as luas e os uivos estridentes dos lobos. - Perece em prece.Veste-te de morte. pecado absurdo desgraça o pudor atraída por garras de longas pelúcias que ornam as finas mãos de veludo e por correntes que prendiam prometendo segurança a um lugar intrépido. na encosta, encostam um corpo à beira do rio ouvindo a discussão vazia sobre a inexistente onipotência do desgraçado ser. -imundo! entrega-te à tua desgraça e faz o teu querer, se o queres. triste sourire , doze do um.

lugar para olhar

registrei no vazio preenchido de uma sala preta a delicada sutileza da construção de outros seres: o fazer-se real ao inanimado o fôlego de vida num boneco de barro a beleza do existir ao inexistente. Theatrum , dez do um.

volta ao redor

Os verdes aplausos louvavam meu nome com as palmas cor de terra. Ao fundo, o som ruidoso do vento frio espalhando as alvas nuvens-pedra grandes ameaçando sutilmente dar cabo a toda forma de vida que anunciava-se ao meio-dia naquele nove de janeiro que mais lhe parecia abril. Saúdam-me os seres sem mácula em louvor a mim: maculado, seu deus. Antropocentrismo perpetuado em versos e fôlegos pardos cor de gente cor de papel esverdeados cor de náusea violenta e delirante. Ambiens , nove do um.

Genira (mais uma vez)

lembro-me bem de quando tua memória começou a ficar parca e passou a necessitar dos cuidados alheios. ao te ver preocupada em não deixar o  seu nego  só, dizíamos com absoluta convicção: "acho que ela não esquece dele não, se isso acontecer..." e mantínhamos as reticências, anunciando o desconhecido previsto. passaram-se os anos e eles te foram roubados da lembrança às vezes até se apresentam, como num piscar de olhos ou como uma chama, que rapidamente se apaga e em um dado momento, você esqueceu. Esqueceu sua idade, que tinha filhos e que havia casado. As filhas agora eram irmãs, os netos eram sobrinhos, as netas eram meninas, amigas, conhecidas... e seu nego se fez seu pai. E, como antes, você o procurava a cada instante. vi em teu rosto enrugado, rodeado por teus brancos cabelos a tua face de menina moça, temendo a outros homens que não remetem à tua figura paterna: o nome que você repete completo infinitas vezes ao dia. e nele, teu esposo que se fa...

subeditor

desgrenhei minha característica em destaque para permitir o despontar de um ser que não existe, é construído num fazer-se real. Persona , onze do um.

rascunho

rascunhei o vazio não dito precedido de um pedido para falar sobre o que eu não diria. por meses mantive registrado num lugar incômodo da aba rascunhos que entre parênteses anunciava aquela falta até então eternamente apresentada: (1) ao me deparar com aquele número incômodo que me trazia à lembrança o teu olhar, descartei um rascunho incompleto no qual eu inda guardava teu pedido indiscreto solicitando o que eu já te havia negado.

vulcão, menina

à menina dos cabelos de fogo da pele de terra e ar junção dos seres que passeiam entrenós co'as asas que me deste para ir ao éter e voltar e um sorriso ao qual não cabem adjetivos - juro que tentei qualificar: o mais intenso destes que registro sem desmerecer aos precedentes ou aos que seguirão, gozo entre lábios adornados de cor dourada. Lua, oito do um.

domingo

prolonga-se o limbo num mar de lama me banho desnuda impura como qualquer humano não num rompante tampouco num lapso numa sucessão de tecituras em conjunto acomoda-se na suíte mais fina do hotel barato que lhe serve de casa. ami , sete do um.

registro de um dia suspenso

como se eu nem pisasse o chão e a cabeça, num peso insuportável, se prendesse a qualquer coisa que lhe permitisse o mínimo conforto. Não vos digo isso por teimosia, capricho ou qualquer outra coisa dessas, mas se posso registrar, eu o faço: - Como registrar os sorrisos de um dia triste? Minha própria estrela: eu, seis do um.

lux

A luz que, ao se pôr sempre me acompanha, desta vez te iluminou. A ti e a uma ponte de concreto. E a mim? Eu era a luz. Descobri que sempre fui. Al , cinco do um.

criança

a doçura de um olhar calmo capaz de refletir pensamentos incertos a curiosidade de um nariz empinado e de ouvidos atentos ao som de um estalo que se faz com a língua. menina, quatro do um.

"c"

Esqueci teu nome desde aquele dia, o fatídico dia que maculou teu local, estabelecendo a eterna presença fantasmagórica de um existir intruso, mas que se perpetuou Esqueci teu nome aquele dia e, desde então lembro-te como um erro, um rabisco, uma prostituição não procurei substituir você, mas o fiz quase sem perceber. Esqueci teu nome aquele dia e, como uma falta, nomeei poetas, putas e vagabundos as nuances das existências inconfundíveis. Demarco teu não lugar na minha não vida.