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Genira (mais uma vez)


lembro-me bem de quando tua memória começou a ficar parca
e passou a necessitar dos cuidados alheios.
ao te ver preocupada em não deixar o seu nego só,
dizíamos com absoluta convicção:
"acho que ela não esquece dele não, se isso acontecer..."
e mantínhamos as reticências, anunciando o desconhecido previsto.

passaram-se os anos e eles te foram roubados da lembrança
às vezes até se apresentam, como num piscar de olhos
ou como uma chama, que rapidamente se apaga
e em um dado momento, você esqueceu.
Esqueceu sua idade, que tinha filhos e que havia casado.

As filhas agora eram irmãs, os netos eram sobrinhos,
as netas eram meninas, amigas, conhecidas...
e seu nego se fez seu pai.
E, como antes, você o procurava a cada instante.

vi em teu rosto enrugado, rodeado por teus brancos cabelos
a tua face de menina moça, temendo a outros homens
que não remetem à tua figura paterna:
o nome que você repete completo infinitas vezes ao dia.

e nele, teu esposo que se faz teu pai,
vi um cuidado zeloso
um amor inigualável 
que te ouvia e acatava a condução 
um amor que se consolidava 
ao responder quando chamava "papai".


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